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Escala 6×1: o que diz a lei, os efeitos no dia a dia e por que está na mira do Congresso

Como uma jornada de seis dias de trabalho seguidos e apenas um de descanso afeta sua rotina, o tempo com a família e a qualidade da sua saúde? O debate sobre a jornada de trabalho ganhou força no último ano, impulsionado pela pressão de movimentos sociais e pelas redes sociais.

Esse modelo está no centro das discussões entre trabalhadores, gestores e profissionais de RH. A escala 6×1, ou seja, seis dias consecutivos de trabalho seguidos por um único dia de folga é amplamente utilizada no Brasil, especialmente em setores como comércio, indústria e serviços essenciais.

Embora esteja prevista na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), essa jornada tem sido alvo de críticas e discussões por propostas legislativas, como a PEC apresentada pela deputada Erika Hilton.

Entre os principais desafios apontados pelos colaboradores, um se destaca com frequência: a dificuldade de conciliar a rotina de trabalho com a vida pessoal. Com jornadas formais de oito horas, muitas vezes ampliadas por deslocamentos, demandas domésticas e responsabilidades familiares, sobra pouco tempo para o convívio com os filhos, a manutenção de vínculos sociais e o investimento em desenvolvimento pessoal ou profissional. O resultado é uma sensação crescente de que o trabalho tem ocupado um espaço desproporcional na vida das pessoas, comprometendo o bem-estar.

O que é a escala 6×1?

A escala 6×1 é uma modalidade de jornada prevista na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), na qual o profissional cumpre seis dias consecutivos de trabalho e tem direito a um dia de descanso remunerado na semana.

Nesse formato, a carga horária semanal de até 44 horas é distribuída ao longo de seis dias úteis, o que resulta em jornadas diárias de aproximadamente 7 horas e 20 minutos.

A legislação também estabelece que o dia de descanso deve, preferencialmente, coincidir com o domingo. Porém, o trabalhador só tem garantia legal de folgar ao menos um domingo a cada sete semanas de trabalho.

Esse modelo, amplamente adotado em diversos setores, levanta questões importantes sobre qualidade de vida, equilíbrio entre trabalho e vida pessoal e saúde física e mental dos profissionais. E é justamente essa desconexão entre o tempo que se dedica ao trabalho e o tempo que se tem para viver que está no centro do debate sobre a escala 6×1.

Como funciona na prática?

A escala 6×1 é a realidade de milhões de trabalhadores em setores que não podem parar: comércio, supermercados, indústrias, hospitais e outros serviços essenciais. Para garantir o funcionamento contínuo, as empresas montam escalas que respeitam a folga prevista em lei.

Na prática, o tão sonhado domingo livre nem sempre acontece. Pela legislação, o trabalhador deve ter, no mínimo, um domingo de folga a cada sete semanas. Alguns setores negociam variações via acordos ou convenções coletivas, respeitando os limites da CLT.

Direitos garantidos pela CLT

A jornada de trabalho 6×1 está de acordo com as garantias previstas na legislação trabalhista. Entre os principais direitos assegurados ao trabalhador, estão:

  • Jornada diária máxima de 8 horas, com possibilidade de até 2 horas extras
  • Intervalo intrajornada de 1 a 2 horas para refeições e descanso em turnos superiores a 6 horas
  • Descanso semanal remunerado (DSR)
  • Remuneração em dobro para o trabalho em feriados, salvo nos casos de acordo de compensação
  • Pagamento de adicionais noturnos, horas extras e depósito do FGTS

Vantagens e desvantagens

Para as empresas:

  • Garante a continuidade da operação durante todos os dias da semana
  • Facilita substituições e ajustes rápidos na equipe
  • Permite maior flexibilidade para atender à demanda
  • Melhora o aproveitamento da mão de obra com escalas rotativas

Para os trabalhadores:

  • Direito ao descanso semanal garantido por lei
  • Possibilidade de escalas mais previsíveis

Por outro lado, o tempo livre contínuo é mais limitado, o que pode gerar impactos importantes na saúde física, emocional e na vida pessoal.

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Entre os principais desafios enfrentados pelos trabalhadores nesse modelo, destacam-se:

  • Menor tempo livre semanal
  • Rotina desgastante e redução do convívio familiar
  • Dificuldade para conciliar lazer, descanso e vida social

Impactos sociais e pessoais

A rotina 6×1 pode afetar significativamente a qualidade de vida dos trabalhadores.

Fortaleça esse processo com uma jornada de autoconhecimento profundo e consistente.

Entre os principais impactos estão:

  • Cansaço físico e mental: com apenas um dia de folga por semana, o tempo de descanso contínuo é limitado, o que dificulta a recuperação do corpo e da mente. Isso pode resultar em fadiga persistente, menor disposição e aumento do estresse.
  • Crescimento alarmante dos casos de Burnout: de acordo com a pesquisa da International Stress Management Association (Isma-BR), realizada em 2021, o Brasil é o segundo país do mundo com mais casos de burnout. A síndrome, que atinge cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros, é marcada pelo esgotamento físico, emocional e mental.
  • Menos tempo para a vida pessoal: a rotina intensa reduz as oportunidades de lazer, de convivência com a família e de cuidados com a própria saúde, prejudicando o equilíbrio entre vida profissional e pessoal.
  • Crise de saúde mental no Brasil: Segundo dados do Ministério da Previdência Social, os afastamentos por motivos psicológicos vêm crescendo de forma alarmante. Em 2024, foram registrados quase 500 mil afastamentos, o maior número dos últimos dez anos, um reflexo direto das condições de trabalho sobre a saúde emocional dos profissionais.

O debate legislativo atual

O que começou como uma onda de indignação nas redes sociais se transformou em mobilizações concretas, com atos organizados em diversas cidades do país. À frente desse movimento está o Vida Além do Trabalho (VAT), que defende a redistribuição do tempo como uma questão de saúde, dignidade e justiça social.

Alinhada ao movimento, a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) apresentou ao Congresso, em abril de 2024, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que propõe a redução da jornada máxima para 36 horas semanais, com adoção do modelo de quatro dias de trabalho por semana. A proposta visa atualizar a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que, segundo a deputada, está defasada diante das transformações no mundo do trabalho e do avanço dos casos de adoecimento relacionados à exaustão.

A iniciativa recebeu forte apoio popular. Uma petição organizada pelo movimento já coletou mais de um milhão de assinaturas, reivindicando o fim da escala 6×1 sem redução de salário. Além da redução da carga horária, o grupo também propõe maior fiscalização sobre o cumprimento das leis trabalhistas e a punição de empresas que violarem os direitos dos trabalhadores.

A PEC da Jornada de 36h foi oficialmente protocolada com o apoio de mais de 171 parlamentares, número mínimo necessário para que a proposta comece a tramitar. O tema ganhou ainda mais relevância com o respaldo de sindicatos, especialistas em saúde pública e movimentos sociais que alertam para os impactos do excesso de trabalho na saúde mental e física da população.

Por outro lado, empresas e setores considerados essenciais argumentam que a manutenção da escala atual é crucial para assegurar o funcionamento contínuo das operações e preservar a competitividade no mercado. A discussão segue em pauta, refletindo uma disputa entre diferentes visões de produtividade, bem-estar e futuro do trabalho no Brasil.

Alternativas à escala 6×1

Diversas escalas alternativas são debatidas como modelos mais equilibrados:

Escala 5×2

É comum em setores com jornada comercial, com cinco dias de trabalho seguidos de dois dias de descanso, geralmente sábado e domingo. Proporciona um descanso semanal maior e facilita a rotina regular dos funcionários, respeitando a legislação brasileira que prevê 44 horas semanais e um repouso semanal remunerado.

Escala 5×1

Funciona com cinco dias de trabalho e uma folga rotativa, oferecendo menos frequência de descanso que a 5×2. É usada em setores como varejo e produção com alta demanda, mas exige atenção para garantir domingos de folga pelo menos uma vez ao mês, conforme legislação.

Escala 4×3

Organiza quatro dias consecutivos de trabalho seguidos por três dias de descanso, sendo ideal para plantões e setores que funcionam 24 horas, como saúde e segurança. Esse modelo promove maior equilíbrio entre vida pessoal e profissional e tende a aumentar a produtividade, embora precise ser ajustado para respeitar limites legais e, geralmente, envolver negociações sindicais.

Escala 12×36

É caracterizada por 12 horas de trabalho seguidas por 36 horas de descanso, muito adotada em setores como saúde e indústrias que operam ininterruptamente. Este modelo estende o período de descanso, o que pode dispensar pagamento adicional em dias especiais, porém, deve seguir acordos coletivos para se ajustar legalmente.

Escala 24×48

É um modelo mais específico, comum em forças de segurança, no qual o profissional trabalha 24 horas e descansa 48 horas, sendo importante o controle rigoroso de jornada para garantir a observância das regras.

Conclusão

Embora a escala 6×1 continue válida e amplamente adotada em setores essenciais, ela está no centro de um debate crescente que envolve saúde, qualidade de vida e produtividade. Propostas como a PEC apresentada pela deputada Erika Hilton indicam que mudanças importantes podem estar a caminho, impulsionadas por movimentos sociais e pela busca por um equilíbrio maior entre trabalho e vida pessoal.

Esse processo é ainda mais poderoso quando aliado ao desenvolvimento da inteligência emocional

O grande desafio reside em alinhar a eficiência e a produtividade das empresas com a saúde física e emocional dos colaboradores, garantindo que os direitos trabalhistas evoluam em sintonia com as transformações sociais.

Se você atua ou lidera equipes sob a escala 6×1, como percebe os efeitos dessa rotina no seu cotidiano? Quais mudanças seriam mais importantes para promover um equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional?

Foto de Vera Lorenzo
Vera Lorenzo

Vera Lorenzo, CEO da Fala Company, é fluente em cinco idiomas e especialista em Coaching e Liderança, com mais de 30 anos de atuação. Mestre em oratória, possui cinco formações internacionais em Coaching, além de expertise em Storytelling, Design Thinking, Voice Coach, PNL e Assessment DISC + Valores. Vera também é autora dos livros “50 Coisas para Fazer Antes dos 50” e “Mulheres que Transformam I e II”.

29 de setembro de 2025

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